MOTE ALHEIO
Caterina bem promete...
Eramá, como ela mente!
VOLTAS PRÓPRIAS
Caterina é mais fermosa
para mim que a luz do dia;
mas mais fermosa seria
se não fosse mentirosa.
Hoje a vejo piadosa,
amanhã tão diferente
que sempre cuido que mente.
Caterina me mentiu
muitas vezes, sem ter lei;
mas todas lhe perdoei
por ũa só que cumpriu.
Se, como me consentiu
falar, o mais me consente,
nunca mais direi que mente.
Má, mentirosa, malvada,
dizei: para que mentis?
Prometeis, e não cumpris.
Pois, sem cumprir, tudo é nada,
Não sois bem aconselhada;
que quem promete, se mente,
o que perde não no sente.
Jurou-me aquela cadela
de vir pela alma que tinha.
Enganou-me: tem a minha;
dá-lhe pouco de perdê-la.
A vida gasto após ela
porque ma dá, se promete;
mas tira-ma, quando mente.
Tudo vos consentiria
quanto quisésseis fazer,
se esse vosso prometer
fosse por me ter um dia;
todo então me desfaria
convosco; e vós, de contente,
zombaríeis de quem mente.
Prometeu-me ontem de vir,
nunca mais apareceu;
creio que não prometeu
senão só por me mentir.
Faz-me enfim chorar e rir:
rio, quando me promete;
mas choro, quando me mente.
Mas pois folgais de mentir,
prometendo de me ver,
eu vos deixo o prometer,
deixai-me vós o cumprir.
Haveis então de sentir
quanto fica mais contente
o que cumpre que o que mente.