Madrepérola aérea ácido amor Nesta cidade que da mansidão faz escadas Sono corredio nos telhados Sarro da pobreza da noite Nas janelas fechadas de não ter Não durmas na cidade já não podes dormir O sono do saber já te deu a morte Com a vida no sangue E os mortos estão vigilantes Morta Lisboa feita de aves Arestas azuis envelhecidas rosas Lisboa do desassossego De dia janelas de serpentes e ovos E uma criança adormece na cidade Enrolada em panos do linho da manhã Está suspensa no vazio e dorme Não anda ainda não sabe.
In Voz Nua
, Livros Horizonte, 1986
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