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Do alto da cidade Olho e em baixo, profusa, A multiplicidade Tão nítida e confusa Das casas da cidade...
O céu é todo azul E a cidade é vazia Há um calor que me esfria No seu gesto de sul Sob o céu todo azul...
Sim, dessa mole mista De casas, tectos, espaços Sai um hálito a cansaços Que sem qu’rer me contrista Numa oca angústia mista...
Porque é que me entristece Ver ao sol a cidade Que parece se invade De vida e ao sol se aquece Até que se entristece?
Nunca sei porque sinto... Mas uma angústia enorme Rompe em mim um recinto... Acorda o que em mim dorme E é a dor que sempre sinto...
A mágoa inconsolada De não ter não sei quê... O que é que a cidade é Que sem ser p’ra mim nada Faz-me a alma inconsolada?
O que há neste alvo vulto Que me lembra a tristeza? É uma vaga beleza Que busca em mim um culto Para a alma do seu vulto?
Não sei... Ah, triste, triste... Tão triste ao vê-la assim Alegre... Ruas, jardim... As casas... Isto existe... Com que angústia estou triste!
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1915
In Poesia 1902-1917
, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005
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