Quantas penas, Amor, quantos cuidados,
quantas lágrimas tristes sem proveito,
de que mil vezes olhos, rosto e peito
por ti cego, me viste já banhados!

Quantos mortais suspiros derramados
do coração, por tanto a ti sujeito!
Quantos males, enfim, tu me tens feito,
todos foram em mim bem empregados.

A tudo satisfaz (confesso-te isto)
ũa só vista branda e amorosa,
de quem me cativou minha ventura.

Ó sempre para mim hora ditosa!
Que posso temer já, pois tenho visto
com tanto gosto meu tanta brandura?

 

Luís Vaz de Camões
[QUANTAS PENAS AMOR QUANTOS CUIDADOS]
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