vieste dos desertos africanos onde
semeaste tormentos e filhos negros
enrolaste-te agora no pano ardido do tempo
de lisboa - rasgas em tiras dolorosas o sonho
e tentas navegar pelos socalcos dos mares
mas a saudade pelos que partiram e agora
se aproximam desta voz - vêem
um império de navios vazios
e tu
sob o sol cruel - perdido de olhar em olhar
jogando a vida contra o sujo casco dos cacilheiros
vagueias
pelos becos da voz perdida - ou um corpo qualquer
para fingir o sono junto ao teu
mas lisboa é feita de fios de sangue
de províncias
de esperas diante dos cafés
de vazio sob um céu plúmbeo que ensombra
os jardins de estátuas partidas
há um pressentimento de sono sem fim
refugias-te num quarto de pensão e dormitas
o dia todo - para que lisboa te esqueça