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Sua canção fora a Gota. Sua dança fora o Vira. Chamavam-lhe "o fandangueiro". Mas seu nome verdadeiro Quando bailava, bailava... Não era nome de cravo Nem era nome de rosa; Era o de flor, misteriosa, Que se esfolhava, esfolhava... E havia um cristal na vista E havia um cristal no ar Quando aquele fandanguista Se demorava a bailar! E havia um cristal no vento E havia um cristal no mar. E havia no pensamento Uma flor por esfolhar... Fandangueiro! Fandangueiro? (Nem sei que nome lhe dar...) Tinha seus braços erguidos Não sei que ignotos sentidos... - Jeitos de asa pelo ar... Quando bailava, bailava, Não era folha de cravo Nem era folha de rosa. Era uma flor, misteriosa, Que se esfolhava, esfolhava... Que se esfolhava, esfolhava... Domingos Enes Pereira, Do lugar de Montedor, (O bailador de Fandango Era aquele bailador!) Vinham moças de Areosa Para com ele bailar... E vinham moças de Afife Para com ele bailar. Então as sombras dos corpos, Como chamas traiçoeiras, Entrelaçavam-se e a dança Cobria o chão de fogueiras... E as sombras formavam sebe... O movimento as florira... O sonho, a noite, o desejo... Ai! belezas da mentira! E as sombras entrelaçavam-se... Os corpos, ninguém sabia Se eram corpos, se eram sombras, Se era o amor que se escondia...
In Poesias Escolhidas, Biblioteca de Autores Portugueses
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