Já fui outro em outra vida
Antes desta e deste ser.
Quando a lua dos bosques vem
De fadas, gnomos encher,
Um sonho aparece em mim,
Qual luz brilhando sem fim
Algures em mim, à distância,
Em mares que então conhecia
E em terras sem lugar
Onde o dia é outro dia.
Sonho, e tal como o sopro
Que na brasa a chama faz,
Meu peito acende um passado
Que lembrar não sou capaz.
Como a brasa incandescente
Em que o fogo é aparente,
Gasto a riqueza vazia
De um mudo sentido, assim.
Como a chuva cai no mar,
Esvaio-me dentro de mim.
Há labirintos de Eu.
Sou meu ser desconhecido.
Tenho, e não sei porquê,
Da visão outro sentido
(Diferente da vã visão
De minha alma em cisão
Com o que me cerca a vista)
Onde ver é conhecer,
E a vida é fé e dor
Que a Dúvida faz correr.
Minha vida só é feliz
Quando em mim não sinto vida;
Tal como o aroma das flores
Delas é alma tecida,
Um espírito corporizado
De mim mesmo foi herdado,
Espírito da minha alma
Carne-aroma de dois Eus;
Perda e riqueza do ser
Que se partilha com Deus.