Amor, que em sonhos vãos do pensamento
paga o zelo maior de seu cuidado,
em toda condição, em todo estado,
tributário me fez de seu cuidado.

Eu sirvo, eu canso, e o grão merecimento
de quanto tenho a Amor sacrificado,
nas mãos da ingratidão despedaçado
por presa vai do eterno esquecimento.

Mas quando muito, enfim, creça o perigo
a que perpetuamente me condena
Amor, que amor não é, mas inimigo.

Tenho um grande descanso em minha pena:
que a glória do querer, que tanto sigo,
não pode ser cos males mais pequena.

Luís Vaz de Camões
[AMOR QUE EM SONHOS VÃOS DO PENSAMENTO]
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