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Sou uma voz sonâmbula Tacteando nas trevas A sombra do meu eco É mais real do que eu... Sou o resto de todos os cansaços A dor de todas as angústias Fez de mim sua visita. Perfumo de silêncio Todos que para mim Estendem a chorar O gesto de me querer... Passo como um farrapo de nevoeiro Entre as árvores frias Da floresta que dorme... Ando à tona das ondas Ao pé das praias desertas E escuto o canto meu Como se fosse d’outro... Às vezes tenho saudades De outras mágoas que tive Quando era uma outra cousa E do alto de uma torre Mais velha do que Deus Eu via um outro luar Cantar-me outras tristezas... Agora erro sonâmbulo e despido Entre o sonho e a vida…
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1913
In Poesia 1902-1917
, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005
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