|
Oiço passar o vento na noite. Sente-se no ar, e alto, o açoite De não sei quem em não sei quê. Tudo se ouve, nada se vê. Ah, tudo é símbolo e analogia. O vento que passa, esta noite fria. São outra cousa que a noite e o vento — Sombras de Vida e de Pensamento. Tudo nos narra o que nos não diz. Não sei que drama a pensar desfiz Que a noite e o vento narrando são. Ouvi. Pensando-o, ouvi-o em vão. Tudo é uníssono e semelhante. O vento cessa e, noite adiante, Começa o dia e ignorado existo. Mas o que foi não é nada disto.
24
-
9
-
1923
In Poesia 1918-1930
, Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, Ana Maria Freitas, Madalena Dine, 2005
|